segunda-feira, 31 de agosto de 2009

SEU JOGO

Ah mulher! Se é assim que quer
vou jogar o seu jogo
de encontros e desencontros
de olhares e indiferenças
de sorrisos e sobrecenhos
de levezas e pesares.
Se é assim que quer, mulher
não mais declarar-te-ei o meu amor,
se prefere buscar pistas, enigmas e mistérios
farei rodeios e fingirei enganos
mostrarei dúvida sobre a certeza.
Pintarei o meu amor vivo e forte
com cores baças e traços hesitantes.
No palco, do pierrot farei arlequim,
pra te confundir e perguntar a si mesma:
“Como essa alegria se sofrias por mim?”
Não mais cantarei aos quatro ventos o meu amor,
sussurrarei palavras ambíguas e perdidas.
Não mais olharei perdido um ponto qualquer,
(denunciando minha condição...)
me fixarei no rápido e fugidio dia-a-dia.
Se é assim que quer.
(Mas perceba que mesmo assim,
continuarei fazendo o que você quer...)

AMOR

Deitados sobre uma rosa aberta
Iluminados pelo vagalumear da lua
Dois corpos se limitam
A serem vibrações e gritos
Alvoroço que se metamorfoseará
Na mais pura seda.
Agora, repousará o mundo
nos idílicos braços do silêncio.

A SOMBRA DE UM SER.

Memórias avulsas
numa mente perdida em volúpias.
Sustos, medos, torturas...
e um olhar cansado –
de quem morre de tédio.
Sentidos aguçados
para nada sentir,
para com nada deliciar-se.
Aqui só resta o vazio
sem gosto, sem rosto
sem cheiro e sem voz.
O que nos sobra?
O que nos falta?
O que nos resta,
neste mundo de promessas?
Ninguém sabe responder,
nem mesmo sabe questionar.
Aqui jaz a alma,
e sustenta-se o silêncio
de um mudo que se calou
antes mesmo de aprender a falar.
Sozinho o ser
opaco e abatido,
a boca fechada, a mente vazia.
Só o coração ainda bate,
não se sabe o porquê.

ESTIVE EM MIM ESTA TARDE

Eu que faço chover
em todas as tardes.
Eu que ato os nós
- em mim mesmo –
todas as tardes.
Eu que escorro
- em sangue –
todas as tardes.
Eu que me escrevo
- parcialmente todo –
em todas as tardes.
Eu que posso tudo isso:
Nada sei do que faço
Enquanto durmo.
Eu que posso
nada disso tudo
em todas as tardes:
Mato-me quanto é noite.
Recrio-me pela manhã.
Eu que me reconheço
- só lá pelas dez –
Eu que assim permaneço
Escrevo:
Eu que assim sou.
Estou.
tessitura tênue
dor
telúrica
tece a tela
lúdica

QUEM TEM MEDO DA POESIA?

Julgo que a poesia, como toda arte, é uma busca; ler um poema é criar junto, é ser autor também. Criando, o artista rompe com a automação imposta pelo cotidiano, buscando reformular a linguagem para reformular o homem. Assim, criar é dar vida, é construir o novo, sempre, sucessivamente, eternamente...

Por isso, talvez, Fernando Pessoa tenha dito que “viver não é preciso”. Viver é coisa de humana criatura. Aprender a criar é aprender a ser eterno. Como os deuses...

Você conhecerá agora alguns desses “aprendizes”. Mas, para que apresentá-los? Cada poema é seu cartão de visita. Seu RG. Seu CPF. Seu código secreto.

Como Drummond, caro leitor, eu lhe pergunto: “Trouxeste a chave?”

Não, não adianta revirar os bolsos, o cérebro, nem mesmo o coração, numa procura inútil. Para abrir um poema não existe chave-mestra. Mas não se afaste. A poesia acolhe aquele que se atreve.

E se quiser se atrever mais, procure-nos. In-vazão poética é um projeto da UNESP de Bauru, que congrega os amantes da poesia (escritores ou não) visando, sobretudo, divulgá-la entre os mais diversos públicos.

Aguardamos você.

“um brinde à poesia

que a vida nos revela

à revelia!”

Profa. Dra. Maria do Carmo Almeida Corrêa (coordenadora do Projeto)

Departamento de Ciências Humanas – FAAC - UNESP - Bauru